Crianças não precisam de likes — precisam de atenção verdadeira

Aos 8 anos, Rafael gravou seu primeiro vídeo.

Era uma brincadeira inocente — ele imitava um personagem famoso, com uma dancinha engraçada.
O vídeo bombou entre os amigos. Os likes vieram. E os seguidores também.

Mas, depois de um tempo, os comentários começaram a mudar.
"Mostra mais", "Tira a blusa", "Que fofinho... dá vontade de apertar".
Rafael não entendia. Mas continuava. Queria agradar.

A mãe só percebeu quando viu o filho tentando repetir vídeos de adolescentes.
Rostos sérios. Rebolado ensaiado. Silêncio no jantar.

Essa história não é sobre um caso extremo. É sobre o que pode acontecer quando a internet educa no lugar dos pais.

O que está por trás de um like?

Likes não são amor

Likes são números. Reações. Dopamina. Mas não são abraço. Não são escuta. Não são limites seguros.

Quando uma criança entra nas redes em busca de validação, o que ela está dizendo, sem saber, é:
"Eu quero ser vista. Eu quero ser amada."

A lógica da exposição

Plataformas como YouTube, TikTok e Instagram funcionam com algoritmos. Quanto mais engajamento, mais visibilidade. Isso cria um ciclo perigoso:

  1. A criança posta algo “engraçado” ou “bonito”.

  2. Recebe curtidas, elogios — inclusive de desconhecidos.

  3. Começa a se moldar ao que “funciona”.

  4. A linha entre inocência e erotização começa a borrar.

Os perigos invisíveis: o que muitos pais não veem

Sexualização precoce: quando a infância é roubada

A sexualização precoce acontece quando a criança é exposta — ou se expõe — a conteúdos, comportamentos e estímulos que não são apropriados para sua idade.

🔍 Exemplo real:
Uma menina de 10 anos grava dancinhas sensuais, sem entender o impacto disso. Adultos assistem. Comentam. Compartilham. E ela, sem querer, vira objeto de desejo.

Esse ciclo destrói a percepção de valor, identidade e segurança.

Riscos digitais que parecem "inofensivos"

Mesmo sem nudez ou pornografia, há conteúdos que:

  • Ensinam que o corpo é mais importante que o caráter

  • Reforçam padrões estéticos inalcançáveis

  • Criam comparação e baixa autoestima

  • Incentivam comportamentos perigosos em troca de viralização

O que os pais podem (e devem) fazer hoje

1. Estabeleça limites com amor e clareza

Não é sobre proibir tudo. É sobre guiar.

  • Defina horários e locais para uso de telas

  • Proíba redes sociais até certa idade — e explique o porquê

  • Use controle parental: não é invasão, é proteção infantil

Ferramentas úteis:

  • Google Family Link

  • YouTube Kids com moderação

  • Bark, Qustodio e outros apps de controle

2. Converse sobre o mundo digital como se fosse o mundo real

Se seu filho não entraria sozinho numa rua escura, por que ele entra em plataformas abertas sem supervisão?

🗣 Dicas de conversa:

  • "Você sabe por que certas danças não são para crianças?"

  • "Já viu alguém sendo maldoso na internet? Como se sentiu?"

  • "Sabe que você pode falar comigo sobre qualquer coisa, né?

3. Dê o que o like não dá: presença

Likes não substituem um olhar atento. Um tempo de qualidade. Um elogio verdadeiro.

👨‍👩‍👧‍👦 Ideias práticas:

  • Jantares sem celular

  • Um “dia offline” por semana em família

  • Assistir vídeos juntos e conversar sobre o conteúdo

4. Seja o exemplo

Seu filho aprende mais com o que você faz do que com o que você diz.

  • Está sempre no celular? Ele vai querer o mesmo.

  • Posta tudo da vida pessoal? Ele aprende que a vida precisa ser exibida.

  • Vive buscando aprovação online? Ele vai repetir esse padrão.

Sua presença é o escudo mais forte

Talvez você tenha percebido que já expôs demais. Talvez se culpou. Tudo bem.

A culpa paralisa. A consciência transforma.

Se você chegou até aqui, já deu o primeiro passo: se importou. Agora, é hora de agir.

👣 Comece hoje:

  • Converse com seu filho sobre o que é exposição.

  • Reveja os perfis e postagens públicas.

  • Busque momentos de conexão real — mesmo que curtos.

🫶 Seu filho não precisa de um milhão de seguidores. Precisa de você.
Compartilhe esse artigo com outros pais conscientes. Vamos construir, juntos, uma infância segura.

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